O Passado

Domínio das terras - como era e como funcionava a lagoa de Itaipu

Durante pelo menos 23 séculos e até 1979, o ecossistema da laguna de Itaipu apresentou um ciclo natural de cheia e vazante, ou seja, seu nível de água (cota em relação ao nível do mar) e sua superfície nunca foram estáticos, oscilando anualmente de acordo com a quantidade de chuva que caia na bacia hidrográfica.

A laguna de Itaipu nunca foi conectada de forma permanente ao mar. Quando o canal era aberto naturalmente ou por ação dos pescadores, raramente a conexão durava mais de 15 dias, pois logo o mar fechava a barra, reiniciando o ciclo de cheia-esvaziamento.        

As informações acima são verdadeiras e cientificamente comprovadas. Foram retiradas do estudo do cientista Lejeune de Oliveira (Estudo Hidrobiológico das Lagoas de Piratininga e Itaipú. Mem do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 46: 672-718,1948), que usou as réguas instaladas pelo Exército para registrar os níveis. O quadro abaixo resume suas conclusões.


Até 1979 praticamente não havia manguezais na margem da lagoa de Itaipu. Sua orla e leito de inundação eram ocupados majoritariamente por brejos dominados por taboas e por algumas árvores típicas de áreas alagadas como a tamanqueira ou tabebuia. A água oscilava entre doce e salobra. Quando a barra estava aberta, áreas da lagoa tornavam-se salgadas, mas rapidamente a água dos rios promovia a diluição


As fotos a seguir, tomadas antes de 1979 mostram a ampla superfície tomada pela lagoa quando cheia. 


A fotografia A mostra que a lagoa (1) quando cheia atingia o sopé do morro da Peça (2). Pode se ver ainda os brejos na margem da lagoa e mesmo adentrando-a (3), a planície arenosa e a restinga de Camboinhas (4), a praia de Camboinhas (5) e a Serra da Tiririca (6).  A fotografia B mostra a lagoa de Itaipu cheia (1), com as águas quase atingindo o sopé do Morro das Andorinhas (3), a planície de inundação exposta (2) e a Serra da Tiririca.     

Datada de 1964, a fotografia aérea abaixo mostra a lagoa com barra fechada e o contraste dos tipos de terreno que circundam a lagoa. 



Os terrenos assinalados como TEG são os solos que formavam o antigo fundo da lagoa quando cheia, denominados técnicamente como “Gleissolos”, adiante caracterizados. Os terrenos TAR são solos arenosos de restinga enquanto os terrenos TF são originados basicamente da erosão das encostas.  A fotografia mostra ainda: 1) Canal de Camboatá, (2) Estada F Cruz Nunes,  (3) Vila de Pescadores, (4) Lido da Lagoa – local onde a água vazava quando cheia, (5) Morro das Andorinhas., (6) Morro da Peça

Os solos das planícies que circundam a lagoa são os chamados de “Gleissolo”. Este tipo de solo se desenvolve em áreas planas alagadas ou sujeitas a alagamentos, podendo apresentar tonalidades cinza devido à presença de matéria orgânica. São solos minerais, hidromórficos, desenvolvidos de sedimentos recentes não consolidados, de constituição argilosa, argilo-arenosa e arenosa, do período do Holoceno. Podem ocorrer com algum acúmulo de matéria orgânica.

Compreende solos com baixa drenagem que possuam características resultantes da influência do excesso de umidade permanente ou temporário, devido a presença do lençol freático próximo à superfície. Apresentam um horizonte subsuperficial de coloração acinzentada, cinzenta, com mosqueados amarelados ou avermelhados, oriundos da oxidação do ferro na matriz do solo, em consequência dos fenômenos de oxirredução.

A fotografia aérea mostra os limites naturais da lagoa quando cheia, claramente evidenciados pela superfície de solos hidromórficos.

Conclusão:

Fundo de lagoa quando cheia é lagoa e, incontestavelmente, terra pública, ou seja, não precisa ser indenizada.    

As terras públicas (imóveis públicos) na planície que circunda a lagoa de Itaipu tem como limite o perímetro traçado na cota de 1,6 m acima do nível do mar acrescido de uma faixa de 15 metros de largura, que corresponde aos terrenos marginais ou reservados (Art. 4º - São terrenos marginais os que banhados pelas correntes navegáveis, fora do alcance das marés, vão até a distância de 15 (quinze) metros, medidos horizontalmente para a parte da terra, contados desde a linha média das enchentes ordinárias - Decreto-Lei Federal 9.760/46).


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Plano Diretor de Niterói propõe Parque Municipal da VEPLAN

Aprovado pela Câmara de Vereadores sob a presidência de Paulo Bagueira, a lei do Plano Diretor de Niterói propõe um “parque municipal” abr...